liderança
A ideia de pertencer a uma comunidade é tão antiga e óbvia que não nos damos conta da sua importância quando vamos tratar dos assuntos: análise do clima organizacional, melhor convivência e motivação dos colaboradores. Identificar-se e pertencer a um grupo é tão necessário ao ser humano quanto à grande parte dos animais. É por isso que nos unimos em famílias, tribos, torcidas e até gangues. Empresas, governos, partidos políticos e impérios se esfacelam quando o senso de pertinência – o amálgama que une seus participantes – deixa de existir.
Inseridos no contexto e com noção clara do caminho a ser trilhado, gostamos de contar que estamos ajudando a criar a boa história da empresa para a qual trabalhamos. A isto chamamos desenso de pertinência e é ele que nos dá a percepção de participar de alguma coisa maior do que nós. Identificar-se com problemas, dificuldades e sonhos semelhantes fez nossos antepassados se reunirem em clubes sociais; não tem cidade do Novo Mundo, formada por imigrantes, que não tenha o seu clube português, italiano, alemão, polonês ou japonês. Alguns viraram até clubes de futebol. Os gaúchos são bons nisso: a nostalgia dos pampas criou os GTGs – Centro de Tradições Gaúchas – existentes até na Amazônia e no Japão.
Recomendo às empresas que em vez de aplicarem em seus colaboradores doses cavalares de campanhas motivacionais façam esforços inteligentes, sutis e constantes para despertar neles o velho e bom senso de pertinência.
Troque campanhas de motivação por senso de pertencimento
Seja trabalhando em um hospital, na construção de uma estrada, torcendo por um time de futebol, estudando em uma faculdade ou participando de um programa de governo, gostamos de dizer que fazemos parte do projeto e compartilhamos com orgulho desse momento em que a história está sendo construída. Historiadores dizem que os cidadãos romanos de qualquer classe – até os escravos – tinham orgulho de pertencer a Roma, mesmo antes da cidade ser a capital do Império.
Cria-se senso de pertencimento contando histórias e mostrando o significado de cada trabalho
O senso de pertinência nasce no desenrolar da história que está sendo construída. Por isso, uma das habilidades do bom líder é saber contá-las. As narrativas devem indicar os rumos, as dificuldades encontradas e suas soluções, as estratégias e os benefícios – tangíveis e intangíveis. Só assim as metas serão entendidas e incorporadas pelo grupo.
Cuidado – há perigo na esquina
A população de um país, estado ou cidade, ao sentir a falta de lideranças autênticas e de bons projetos estruturais, inicia um lento e progressivo sentimento de não identificação com a causa – circunstância que levará à deterioração do tecido social e criará uma situação de “salve-se quem puder”.
É o que tem acontecido já há algum tempo com o nosso país: caímos numa anomia profunda, criou-se uma pasmaceira geral que, somada à rapinagem oficial e política descontrolada, obriga compatriotas a buscar outros países e abandonar o senso pátrio – só sentindo-se pertencer ao Brasil em época de Copa do Mundo. Isolados do conjunto maior e sem rumo, nos abrigamos nos grupos sociais da internet. No mundo virtual pelo menos podemos ser aceitos e nos manifestar. Deste período da história não gostaria de participar. Ele não me desafia, só me envergonha.